domingo, 3 de junho de 2007

Relato de um espectador solitário

Encontrei esse depoimento no google
postado por Paulo Galo, que não conheço,
mas tomo a liberdade de reproduzir



Enquanto formam-se filas e mais filas em todo o Brasil pra assistir Homem-Aranha e Piratas do Caribe, assisti sozinho na sala Aleijadinho do HSBC Belas Artes ao excelente “Esses Moços”, de José Araripe Jr –seu primeiro longa-metragem.

Saí do cinema feliz da vida de ver a Bahia tão bem reproduzida. O filme é pura poesia mesmo, em nada lembra o sofrível Ó Pai Ó! da Monique Gardenberg. Nós, os baianos, estamos redimidos. E nós, os paulistas, bem contentes.

Fotografia e direção de arte impecáveis, Salvador surge belíssima na telona em grandes planos da Cidade Baixa, onde boa parte da trama se desenrola. Bom rever a Feira de S.Joaquim, que já havia sido bem percebida no ótimo "Cidade Baixa", de Sergio Machado.

Inaldo Santana manda muito bem no papel do velho Diomedes e as meninas são excelentes. A mais velha certamente fará menos sucesso entre o público: sua personagem carrega toda a dureza de quem já tão nova sacou que tá fudida e precisa se proteger agressivamente de tudo e de todos, sempre.

A mais novinha encarna a doçura esperta de uma menina baiana. Carinhosa, chameguenta, alegre. Ri bem da aspereza que a cerca e que ainda não avalia em toda sua extensão, como já faz a irmã mais velha.

Um roteiro esvaziado de glamour e repleto de belas imagens de uma cidade que não merece tantos séculos de maus tratos como Salvador. A cadência é suave e a montagem do filme colaborou muito para que isso acontecesse.

As críticas que li hoje não são favoráveis a Esses Moços. Li a do Cláudio Marques (Coisa de Cinema) e um texto da Reuters publicado no UOL. Fiquei com a sensação de que não vi o mesmo filme que esses críticos.

Nada há de caricato, ao contrário, Salvador é lindamente filmada naquilo que ela predominantemente é, uma cidade bonita, pobre e mal cuidada. Araripe conseguiu captá-la nobre em sua pobreza e saiu-se muito bem da armadilha de uma narrativa sociologizante. Quis e fez uma obra narrada em tom de poesia, sem compromisso no apontamento de soluções para o grave problema da exclusão social e focado nas personagens das meninos e do velhinho. Golaço.

Há quem preferisse assistir uma denúncia mais contundente. Eu achei ótimo ver todas essas mazelas tratadas com suavidade e lirismo. O drama dessas pessoas me incomodou do mesmo jeito mas como é bom lembrar que elas não são estatísticas, não são teses de doutorado ou motes de discursos políticos.

São gente de carne, osso e sensibilidade. Matéria prima muito bem tratada pelo poeta-cineasta Araripe e sua equipe. Amei.

2 comentários:

Celso de Carvalho disse...

Arara,
Apesar de achar que isso iria acontecer mesmo, como tanta coisa acontece na nossa terra que se vangloria da auto-proliferação exponencial de pobres felizes, confesso que achei exagerado o número de cérebros aparentemente produtivos que não entenderam seu filme.
É claro que roliúde é fácil de entender e até mesmo o meinstrim europeu já esculpiu seus códigos nas mentes menos atentas e mais vulneráveis à captura fácil.
Mais uma vez, obrigado. Agradecerei sempre a você por me mostrar na tela do Itaigara que Salvador existe, e nossa vidapoesia não é Oropa, nem França nem Noviorque, muito menos Lozangeles, Ásia ou Novazelandya.
"Tudo que não for amor, é matéria, é assunto e não é sopro. Tudo que não for amor é blá blá blá!", diz um trecho de minha poesia Tudo y Amor.
Abraço amigo, de Celso de Carvalho

Unknown disse...

Arararipe,

Acabo de publicar um post no Blog do Galinho sobre vc e Aninha Franco. Datado de 06/06/2007 com o título "Aninha e Araripe".
Bjs, meu irmão
Galo
http://blogdogalinho.blogspot.com